Sunday, June 17, 2007

Filosofia

Mas que queremos da vida? É a vida?
O que se procura em cada segundo para se perderem cada segundo? O tempo,
assim, de nada nos serve. Um dia, dando por nós próprios,
perguntamo-nos o que fizemos, por onde andámos, que cidades e casas percorremos,
sem que uma resposta nos satisfaça. A vida, então,
limita-se a ser o que fez de nós, sem que o tenhamos desejado,
e nada pode ser feito para voltar atás,
nem para restituir os passos trocados de direcção,
as frases evitadas no último extremo, o olhar que se desviou quando não devia.
Ah, sim - e o amor? É isso que queremos da vida?
É verdade: cada um dos abraços que se deram,
contando cada instante; o rosto lembrado no auge do prazer,
quando um súbito sol desponta dos seus lábios;
os cabelos presos nas mãos, como se elas prendessem o feixe da eternidade...
Assim, a vida poderá ter valido a pena. É o que fica:
o que nos foi dado e o que damos, sem que nada nos obrigasse a dar ou a receber,
o puro gesto do acaso na mais absoluta das obrigações.
Então, volto a perguntar:
que outra coisa queremos da vida?
Nuno Júdice

1 comment:

Daniel C. said...

Bonita reflexão :)

Gostei de ver aqui este texto, fez-me pensar no que ando aqui a fazer...

Bjinho *