Wednesday, October 12, 2005

Morte misteriosa na colina

Eram oito e meia da noite. Os sinos tinham tocado durante breves minutos, convocando 2500 jovens para a igreja da Reconciliação, na pequena aldeia de Taizé. Os irmãos, envergando as habituais túnicas brancas, sentavam-se no chão, formando um corredor no centro do recinto. Mais atrás, rodeado de crianças de várias nacionalidades, sentava-se o irmão Roger, noventa anos, fundador da comunidade.

Começaram os primeiros cânticos meditativos, a convidar ao recolhimento. Depois, dever-se-ia ter repetido o ritual de sempre: um irmão leria uma leitura em várias línguas e o espaço apinhado de jovens mergulharia durante 10 minutos no silêncio. Mas no dia 16 de Agosto de 2005 não foi isso que aconteceu…Pouco depois da primeira melodia, o irmão Roger foi assassinado.

Uma mulher de 36 anos levantou-se do meio dos jovens e dirigiu-se para junto de Roger. A maioria dos presentes pensou que era mãe de uma das crianças que habitualmente se sentavam perto dele. Ninguém reparou que ela transportava uma faca. Abraçou o irmão Roger pelas costas e desferiu-lhe vários golpes na garganta. Ao verem os esguichos de sangue, alguns jovens tentaram imobilizar a mulher. Os monges pegaram em Roger e levaram-no para a sacristia, mas era demasiado tarde. Quinze minutos depois do ataque, era anunciada a morte do fundador da comunidade Taizé.

As autoridades francesas detiveram a romena, e admitem a sua instabilidade mental como possível causa do homicídio. Diagnóstico: esquizofrenia.

O irmão Roger fundou a comunidade em 1940, recebendo ali refugiados da Segunda Guerra Mundial, sobretudo judeus. No final dos anos quarenta começaram a aparecer alguns homens que, com ele, fizeram votos de pobreza, humildade e celibato para toda a vida. O objectivo estava definido: criar uma comunidade internacional e ecuménica, construir pontes religiosas sobre o muro de Berlim, promover o diálogo entre as várias confissões cristãs. Nos anos 60 começaram a aparecer na colina os primeiros jovens. A comunidade foi crescendo… hoje em dia reúne cerca de 100 irmãos, 2 dos quais portugueses, e recebe semanalmente milhares de pessoas oriundas de toda a Europa. O imrão Roger foi agraciado com inúmeros prémios internacionais de direitos humanos e, apesar de protestante, era também uma figura influente no Vaticano e nas igrejas ortodoxas. Está enterrado no pequeno cemitério da aldeia de Taizé, numa campa de pedras e flores, sem outros ornamentos que não seja uma cruz de madeira, com a inscrição do seu nome.

Agora, o seu sucessor é Alois Loser, um alemão de 51 anos, católico. Que consiga dar continuidade à obra e promover momentos e acontecimentos tão espectaculares como só Taizé o sabe fazer.

(informação tirada da revista nm)

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